segunda-feira, 21 de abril de 2008

Da Ditadura à Liberdade

Quando evocamos a Revolução de 25 de Abril estamos a cumprir o nosso dever enquanto cidadãos!
Todos sabemos que foram os militares do Movimento das Forças Armadas os seus impulsionadores.
O que também não deveremos esquecer é que muitos dos portugueses que, militando ou não, em organizações políticas, sociais e culturais, partilhavam dos grandes ideais da Liberdade, e porque não, da Igualdade e da Fraternidade.
Uma guerra colonial, decidida por um regime fascista e sem legitimidade democrática, acabou por agitar consciências e contagiar um povo que passou a admirar a coragem dos combatentes dos diferentes movimentos de libertação, que sempre referiram que se opunham ao regime e não ao povo português.
Foram sem dúvida as lutas contra a opressão e as injustiças que ano após ano foram desbravando o caminho da vitória de Abril!
Seria, pois, injusto esquecer ou mesmo subalternizar o papel desempenhado por todos aqueles que, em partidos e movimentos políticos, em associações estudantis, em instituições culturais, na imprensa, e através das mais diversas formas de expressão artística, foram lutando e denunciando a tirania do regime e mantendo viva a esperança da Liberdade.
È nosso dever relembrar que o programa do Movimento das Forças Armadas (que posteriormente publicarei), com os seus famosos três D - Democratizar, Descolonizar e Desenvolver, foi um programa progressista, que assentou no contributo de muitos milhares de portugueses que nunca se vergaram à ditadura, numa luta travada ao longo de décadas e particularmente nos últimos anos do regime.
Mas se a guerra colonial, foi o catalisador e o despertar das mentes, poderemos afirmar com toda a certeza que o Congresso da Oposição Democrática de Aveiro em Abril de 1973, a fundação do Partido Socialista nesse mesmo mês, as acções de protesto no interior da própria Igreja Católica, como no caso da Capela do Rato, as criticas por parte de uma corrente liberal á incapacidade do Marcelismo em abrir o regime, a última farsa eleitoral em Outubro e Novembro de 1973, os surtos grevistas nos primeiros meses de 74, as acções culturais, e o papel da imprensa, influíram decisivamente no seio dos militares e no chamado Movimento dos Capitães de Abril.
Na minha opinião, devem ser assim, rejeitados os dois tipos de concepção que se por um lado subalternizam a autonomia dos militares de Abril, colocando-os nas mãos da oposição de esquerda e em particular dos comunistas, também não podemos concordar com aqueles que reduzem o 25 de Abril a um golpe militar contra um regime que, se não fora a guerra colonial, tinha a situação interna completamente controlada.
Em suma, se o 25 de Abril foi desencadeado por um movimento estritamente militar, na sua composição e autonomia estratégica e organizativa, tendo como principal motivação a necessidade de pôr fim à guerra colonial e derrubar o regime por ela responsável, esse movimento não se desenvolveu à margem de um vasto conjunto de sinais e incentivos provenientes da sociedade civil, antes recolheu desta a sua principal fonte de inspiração programática.
Poder-se-á até dizer, que a Revolução de Abril teve as suas imperfeições, e que até nos provocou algumas frustrações, mas o que é inegável é que nos legou o mais vasto conjunto de direitos, liberdades e garantias alguma vez alcançado!

3 comentários:

São disse...

Parabéns pelo post, lúcido e justo!
Viva Abril!
Grande abraço, Carlos.

Anónimo disse...

Sem dúvida, meu amigo, sem dúvida... e melhor que ninguém sabe-o quem de facto sentiu na "pele" e na "carne" a opressão e a censura!

Anónimo disse...

Ilustre Carlos Duarte,

Parabéns pelo post e pelo Blog.

Grande Abraço,
Brás dos Santos